Resort de luxo é acusado de despejar esgoto em área indígena, Prefeituras fazem pingue-pongue

Moradores denunciam resort de luxo por despejar esgoto em área indígena na Praia de Mutá; Prefeitura de Porto Seguro alega que local é de Cabrália, mas Secretaria de Comunicação de Cabrália afirma que a área pertence a Porto Seguro, conforme apuração da reportagem

Um grave caso de possível crime ambiental envolvendo o Ondas Praia Resort, localizado na Praia de Mutá, em Porto Seguro, tem gerado revolta entre moradores, trabalhadores da região hoteleira e representantes da comunidade indígena local. Segundo denúncias, o sistema de esgoto do resort estaria lançando dejetos diretamente em uma área de preservação indígena, provocando transbordamento de esgoto em vias públicas e riscos à saúde coletiva.

A Praia de Mutá é uma das regiões mais visitadas do litoral sul da Bahia, conhecida por suas águas calmas, barracas tradicionais e proximidade com comunidades indígenas pataxó. O que era para ser um cartão-postal da cidade está agora no centro de uma grave denúncia de degradação ambiental.

Denúncia e imagens chocantes

Um morador da área, proprietário de um lote nas proximidades do resort, registrou imagens mostrando o esgoto extravasando de um bueiro, a poucos metros de seu terreno. De acordo com ele — e também com funcionários do próprio empreendimento — a tubulação de esgoto utilizada por hotéis da região estaria ligada a uma rede que deságua diretamente em um rio localizado dentro de território indígena.

Segundo o denunciante, com o suposto rompimento de um acordo informal entre os empreendimentos e a comunidade indígena, moradores decidiram bloquear a saída do esgoto, o que causou refluxo na rede e esgoto jorrando a céu aberto na rua.

“O esgoto está voltando tudo e saindo pela tampa do bueiro. Já faz três semanas que isso está acontecendo. O cheiro é insuportável, a quantidade de moscas aumentou muito, e tudo isso está acontecendo bem em frente ao refeitório dos funcionários do hotel”, relatou o morador.

Impacto cultural e ambiental

A reportagem do Fala Porto News teve acesso às imagens e constatou a gravidade da situação. O esgoto escorre livremente pela rua, sem qualquer tipo de contenção, sinalização ou medida emergencial. O caso vai além dos danos sanitários e urbanísticos: a região afetada é usada pela comunidade indígena para práticas tradicionais e está inserida em uma zona de proteção ambiental e cultural.

“Isso aqui não é só um destino turístico. É terra sagrada, é território de gente que vive aqui há gerações. O esgoto está matando não só o meio ambiente, mas também o respeito”, desabafou uma moradora da comunidade.

Clique aqui e conheça o plano diretor de Porto Seguro

Disputa de responsabilidade e resposta oficial

Procurada pela nossa redação, a Prefeitura de Porto Seguro informou que não irá emitir nota sobre o caso, alegando que o local onde ocorre o despejo irregular pertence ao município vizinho de Santa Cruz Cabrália.

Entretanto, após apuração feita pela equipe do Fala Porto News, o local apontado está dentro do território de Porto Seguro, conforme consta no plano diretor municipal e mapas oficiais. Para esclarecer a divergência, entramos em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Santa Cruz Cabrália, que também foi enfática:

André Santana, Secretário de Comunicação: “Esse local é no município de Porto Seguro. A divisa é no Hotel Príncipe do Mutá, em frente à Cabana Macuco.”

Ou seja, a tentativa de transferir a responsabilidade não encontra respaldo técnico ou legal, o que gera ainda mais indignação entre os moradores locais.

GoogleMaps – Mostra que a Rua E, pertence ao território do Município de Porto Seguro

Silêncio do resort e omissão institucional

Até o momento, o Ondas Praia Resort não se manifestou oficialmente sobre o caso, mesmo após a exposição pública do problema e o pedido de resposta feito pela nossa reportagem.

A equipe do Fala Porto News também encaminhou ofícios e solicitações formais à Embasa, à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Porto Seguro e à direção do resort, com prazo de resposta até às 16h do dia 12 de junho.

Enquanto isso, a população clama por intervenção urgente da Vigilância Sanitária, IBAMA, FUNAI e demais órgãos de fiscalização ambiental. A situação é considerada insustentável e perigosa para a saúde pública e a preservação do patrimônio indígena.

GoogleMaps 02 – Mostrando a localização exata da Rua E na Praia de Mutá, Orla Norte

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